OCUPAÇÃO OUTONAL

OTIMIZAÇÃO

Ação ou efeito de produzir condições favoráveis para o melhor desenvolvimento de algo. Do latim optimum “muito bom, o melhor”; baseado em ops “poder-recurso”, que conota acesso a recursos abundantes, em que o melhor desenvolvimento de algo é o mais assegurado possível. Focado na performance intrínseca, por oposição a respostas a limitações extrínsecas.

NICHO

Do latim nidum “ninho”. Parcela de um sistema composta pelas atividades de um grupo de agentes específicos com necessidades ou comportamentos demarcáveis. Subsistema que, não separado do todo, apresenta claras manifestações endémicas.

ADAPTAÇÃO

Do latim aptus “ajustado”, que por sua vez deriva do sanskrit apnoti “chegar, alcançar” e do hittite epmi “conseguir”, com o sentido elíptico de “tornar-se apropriado”. Ato ou estado de uma coisa que se ajusta a outra (incluindo condições extrínsecas), de modo a manter a existência de uma ou ambas as entidades, ou garantir sua reprodução, assim como privilegiar a memorização das respostas bem sucedidas a quaisquer limites e desafios.




Estamos no fim deste patamar, que é também o fim do terreno da Adega. É aqui que se nota com mais clareza a demarcação de limites, com muros e vedações. Inicialmente, estes são elementos negativos, de impedimento, ou de contenção, mas que, se considerados de um ponto de vista dinâmico, podem ser utilizados de forma oportunista. Para que é que serve um muro, senão para travar o movimento?

Encontrámos aqui uma videira e uma roseira brava (rosa canina), que haviam sido abandonadas.

“E aqui, todas estas videiras, e as macieiras que haviam ali. A gente vinha de longe, era tão bonito...” - L

Ambas aguardavam latentemente a possibilidade de se elevarem. Olhando em redor, vimos várias estruturas abandonadas, já sem função aparente, que foram pontos de partida para uma regeneração a partir da arquitetura. Ligámos o engenho do poço, vários esteios de granito e postes de ferro com cabos de aço, efetivamente criando um plano aéreo para a expansão das trepadeiras. Com a introdução destes novos caminhos, criou- se a possibilidade de mais crescimento, não só das espécies que já cá estavam, mas também de outras que introduzimos para o mesmo efeito. Chegaram os chuchus...

“Isso é bom para cozer... para sopa e tudo. É o que dizem! Eu não comi, eu nunca comi nada disso. Eu não como nada disso. Ainda posso morrer...” - A

Chegaram os chuchus, os maracujás, os kiwis e um jasmineiro, passando a produção para uma lógica de volume, em vez de nos restringirmos à área muito limitada deste patamar.

Aqui, a seleção de espécies não atendeu tanto à política do solo, como nos patamares anteriores. Estas são espécies trepadeiras, com grande capacidade de migração. Podem crescer mais de 5m por ano, sendo capazes de percorrer grandes distâncias durante toda a vida, procurando condições ideais para o seu crescimento e propagação. Por serem aptas na deslocação e na procura acima do solo, não se importam grandemente com políticas locais. Não estão por isso geneticamente predispostas para grandes negociações ou protocolos diplomáticos entre espécies. Esperamos que elas ultrapassem os limites da propriedade com a sua eterna vontade de migrar.

Parte do sucesso oportunístico das trepadeiras é a sua forte sazonalidade, sendo capazes de ir das folhas às flores e aos frutos em poucos meses. Cada uma das espécies aqui presente aproveita uma altura diferente do ano para fazer esse crescimento explosivo, e então não compete desnecessariamente por luz. As folhas aparecem à vez, e produzem frutos em alturas diversas, estendendo-se do verão ao fim do outono; a única altura do ano em que o trabalho humano tem de ser consideravelmente organizado.

“É, a gente andava aí a apanhar, andávamos para aí... Para aí uma semana aqui a apanhar as uvas.” - A

É nesta época que os sistemas ecologicamente desenvolvidos produzem invariavelmente uma maior abundância de frutos. É aí que se fazem as vindimas e que se apanham as

azeitonas. O outono é o momento de festejar a produtividade de um pequeno espaço, muito vivo.

“Tenho ali uma máquina ainda - antiga - ainda não está bem completa. Tinha uns numerozinhos, tinha... Era um quarteirão de azeite, era o quartilho, era o litro, era conforme as pessoas iam pedir. Era caro, um quarteirão que a gente ia buscar. Se fosse mais barato trazíamos mais não é?” - L

A sazonalidade do trabalho implica espera e observação e, por isso, adicionamos no cimo do terreno um cadeirão. Este é agora um lugar para parar e descansar; entre a intelectualidade e o lazer. E como sempre, no fim das festas, a vida continua. Depois do outono, podemos observar as folhas caducas das trepadeiras a cair, permitindo-nos chegar com o olhar, deste ponto alto, às plantas herbáceas de pequeno porte que estão junto ao chão. Assim é com o sol. Sem a sombra a cobri-las até à primavera, veremos o desenvolvimento do funcho, da labaça, da urtiga, e de outras plantas espontâneas que são também elas comestíveis.